“Somos da mesma substância que os sonhos” já afirmava o velho Bardo. Pois bem, nossos sonhos hoje construíram uma lha de Plástico no Pacífico, com área equivalente aos estados de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Goiás(1.218.520.471 Km²) num lugar entre o Hawaí e a California, à mais de 2.500 km da civilização.
O plástico da embalagem de nossos sonhos é pretensamente digerido pela fauna marinha, óbvio que o plástico ainda não pode ser digerido por qualquer forma de vida marinha, logo, torna-se um predador sem precedentes na história, pois lentamente vai degradando e mutilando seus oponentes mais fortes, extinguindo seus oponentes mais fracos e boiando feliz e despreocupadamente sobre as ondas do mar.
Você pode estar pensando agora: ”E qual é o problema? Vivo do outro lado, meu país dá para o Atlântico e o planeta é imenso.” Considerando o que dizem os especialistas ambientais, existem outras ilhas semelhantes pelo mundo, inclusive no Atlântico entre a costa leste da Florida e as Bermudas. Uma sacola plástica proveniente da Flórida pode chegar na ilha em estimadamente 40 dias apenas. Enfim, lembre-se que todo ser vivo tem que se alimentar de alguma coisa, existe uma cadeia alimentar que invariavelmente acabará em sua mesa! Imagine que se em seu cardápio houver quaisquer frutos do mar, além do azeite, ervas e condimentos podem conter fragmentos desse mesmo plástico.
Pense que cada vez que você se utiliza de uma simples sacola de supermercado como embalagem de algum sonho gastronômico você pode indiretamente estar contribuindo na composição dessa ilha já que se estima que 27% dela é composta de sacolas de plástico. No fim, talvez você esteja usando a sacolinha plástica para embalar algum sonho e digerindo-a também! Pelo menos parte dela, a pior parte creio eu, pois nem o peixe deu conta! E olha como é a ignorância do peixe: tudo o que cai no mar é possível fonte de alimento. Lembra-me a gente vislumbrando prateleira de supermercado, mas somos inteligentes porque sabemos ler os rótulos e distinguir o que é comestível ou não.
Daí você replica com uma anedota criativa: “Simples, então para eliminar o problema é só ensinar para o peixe a ler o rótulo e pronto! Resolveremos o problema!”. Eu o treplicarei então com o seguinte argumento: mesmo que o peixe pudesse ler o rótulo ainda assim, quem limparia a sujeira? Quem garantiria ao peixe sua dieta de plancton para que ele chegasse saudável até nossa mesa?
Pode ser exagero, porque na verdade os sonhos modernos culminam numa vida de rei, num mar de abundância, sucesso e prosperidade. Vestir, comer, morar e viver com o que há de melhor e mais caro. Esse é o cerne do sucesso, do sonho individual. Existem pesadelos agregados como gota, obesidade, insuficiência renal, leucemia, hipertensão arterial, estresse. Essa é a idéia de igualdade proposta pela humanidade há séculos não há o quê discutir.
Um filme de 1973, Soylent Green(O mundo em 2020), dirigido por Richard Fleischer que passou como um filme de ficção, agora parece menos ficção do que a humanidade poderia supor. Como muitos filmes e obras de ficção desde Júlio Verne, esse filme considerando o rumo dos sonhos da humanidade, perigosamente tem um quê de inconveniente profético, já somos em 2011 7 bilhões de pessoas em uma explosão democráfica num ritmo sem precedentes desde o século XX!
Talvez, ao invés do canibalismo processado em tabletes verdes(soylent greens) proposto no filme (baseado no interessante livro de Harry Harrison: “Make Room! Make Room!, de 1966, sobre superpopulação e desenvolvimento sustentável) cheguemos à algo como proposto em “O livro de Eli” ou “2019” ou “Mad Max” ou qualquer outra obra cinematográfica que reforce nossa sensação de que a possibilidade de nossa autodestruição consciente seja apenas ficção recheada de suspense e ação eletrizantes.
Blindados com essa sensação de que toda essa atual realidade seja apenas um filme de ficção, vamos seguindo o conselho do Bardo, embalando nossos sonhos, nosso planeta, nosso alimento em plástico e tornando-nos cada vez mais dependentes e semelhantes a ele: degradando e mutilando seus oponentes mais fortes, extinguindo seus oponentes mais fracos e boiando felizes, despreocupados sobre as ondas do mar.