Fazendo um mundo melhor.

Esse blog foi uma iniciativa surgida a partir de uma página criada há alguns meses no Facebook. Os textos e links disponíveis interagem com os posts na página "Criando Sustentabilidade".
A proposta do blog é contribuir para uma legitimação e execução de ações sustentáveis individual e coletivamente.
Tentaremos informar, educar e esclarecer alguns pontos sempre obscuros nesse tema.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Troca Impossível

Jean Baudrillard em sua obra “A Troca Impossível” nos demonstra a impossibilidade que temos em ‘trocar’ o mundo, pois não temos parâmetros concretos de comparação com outro mundo semelhante. Não conhecemos outro planeta como a terra e nem parecido, ainda não fizemos contato com outra “raça humana”. Toda a possibilidade de troca ou mudança fica, portanto nesse sentido, relegada ao campo do pensamento.
O processo do pensar está baseado em signos que também geram contradições, incoerências e mal entendidos de toda a ordem. Daí talvez, a inevitável e incoerente atitude autodestrutiva da humanidade hoje.
Sabemos que os recursos estão escassos ou escasseando, sabemos que devemos mudar nossos hábitos de vida e de consumo, pois bem, nos últimos cinco anos houve aumentos significativos de consumo de bens e de recursos energéticos por todo o mundo, não só nos países desenvolvidos, mas nos países emergentes também.
Enfim, como nós simples cidadãos, simples indivíduos, poderemos contribuir? Como podermos fazer história? E daí outra barreira: como você, um entre 6,5 bilhões de indivíduos poderá fazer história? Utilizando o poder de raciocínio humano faça uma reflexão nas seguintes bases:
1º - Todos os grandes nomes da história não tinham como prioridade a fama e a fortuna. Queriam apenas contribuir para a melhora do processo, seja nas ciências ou na sociedade daquele momento em que viveram.  Muitos deles viveram e morreram em condições modestas senão miseráveis.
2º - Grandes feitos em eventos históricos como na Revolução Francesa, Revolução Russa, a Independência da Índia, o fim do Aphartaide africano e americano foram eventos protagonizados inicialmente por pessoas comuns como eu e você. Só pesquisar.
3º - A história da humanidade é por natureza seletiva, contudo, ela nos chama diariamente, a cada um de nós. Exemplo? Um clássico do verão de 480 A.C.: Será que o Rei Leónidas na batalha das Termópilas (conhecida por Batalha dos 300) tinha em mente que uma simples decisão pessoal diante do inevitável o faria ser eternizado até os dias de hoje como o salvador de Atenas e, por conseguinte, da nascente Civilização Ocidental? Acredito que não. Ele apenas fez o que achava certo naquele momento: lutar o melhor que podia e morrer com honra. Era a sua natureza, para isso viveu e morreu.
4º - E qual a sua natureza? Para que vivemos e morremos? Quando conseguirmos o melhor de tudo que o dinheiro pode comprar e depois qual será a meta? Se cada um dos 6,5 bilhões de seres humanos do planeta entrassem para História, como seriam contadas suas vidas?  Considerando o atual estado de nossos recursos planetários, para quem seriam contadas?   
5º- Recomendo também que assista ao documentário Zeitgeist: Moving Forward.
Depois de pensar um pouquinho, me conte suas reflexões.  

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sustentabilidade nos relacionamentos e o consumo do belo.

Há toda uma dinâmica ligada à manipulação de costumes e crenças e até de cultura nos últimos setenta anos nessa área que acabou incorporando-se na sociedade de tal forma que as pessoas custam a acreditar. A Psicologia é peça chave nesse processo. A venda de qualquer produto ou serviço de uns dez anos para cá vem firmemente focada no topo da pirâmide maslowviana. A publicidade foca os cinco sentidos há muito tempo. A literatura é vasta nessa área, porém, quem lê? O mercado estético movimenta hoje mais de 100 bilhões de dólares por ano só no Brasil.
Por que se submeter à uma cirurgia plástica estética sem necessidade? Por que amarrar ou cortar o estômago não sendo um obeso mórbido, tendo apenas um sobrepeso resultante do biótipo e sem antecedentes médicos? Por que ingerir drogas farmacêuticas depressivas ou causadoras de euforia histérica, viver em constante estado de subnutrição que ao longo dos anos resultarão em doenças crônicas? Por que se violentar com anorexia ou bulimia? A maior incidência há uns anos atrás era de adolescentes femininas, agora, existem pesquisadores europeus analisando um crescimento dessas doenças nos adolescentes masculinos. Coincidentemente com o crescimento de padrões como o de Justin Bieber. Em 2003, a metrossexualidade como nicho de mercado, movimentou U$ 10 bi. Só no Brasil, segundo a revista Exame.
Agora, analise, porque um jovem saudável se submete a cortes, sofrimentos, metros de cicatrizes, procedimentos dolorosos? Mais simples ainda: porque as mulheres têm que passar pela tortura da depilação com cera todos os meses? Tirar a sobrancelha com pinça? Qualquer dermatologista consciente sabe que pêlos são a defesa do corpo contra possíveis dermatoses. Porque jovens e velhos passam tinturas compostas com metais pesados e cancerígenos nos cabelos para mudarem sua cor ou esconderem os cabelos brancos? Em várias revistas médicas os efeitos colaterais do uso constante de tinturas capilares já foram publicados. Chapinha, Escova progressiva em base formol e tinta loira vendidas em sua maioria para afro descendentes no Brasil.
No fim, gastamos tanto e nos submetemos a tudo isso porque precisamos nos sentir integrados socialmente, nos sentir acolhidos e amados, principalmente as mulheres. Contudo nós mulheres precisamos refletir até que ponto padrões de beleza nos impedem de sermos sustentáveis interiormente. Os homens também !!!! 
Vai você ficar sem tingir os cabelos ou se depilar. Não entupa seus poros do rosto com alguma maquiagem que muitas vezes causa envelhecimento precoce, não utilize sapatos de salto que promovem joanetes ou aqueles que causam esporões de tão baixos... Vão dizer que você está deprimida e que não se gosta o suficiente. Vão dizer que você precisa se cuidar mais, se amar mais.  Sua aparência estará aos olhos dos outros como muito “descuidada”, você não estará “sexy”, não será “atraente” mesmo que tente preservar sua saúde física.
Ouvirá de todas as amigas o eterno sermão que “estar bela requer sacrifício”; “beleza dói”.   Eu sei, mutilações fazem parte de padrões de beleza.  Na China amarrando os pés de meninas, na África amarrando os crânios dos bebês ou colocando argolas de metal para alongamento do pescoço, em algumas tribos indígenas a dilatação dos lábios, narizes e dos lóbulos. Nas Ilhas Cook, deixavam os filhos em lugares especiais onde não era permitido o exercício físico porque a obesidade era o padrão de beleza vigente.  
Há e sempre haverão padrões ou referenciais de beleza bem definidos por mais cruel  ou torturante que sejam. Isso faz parte da cultura humana civilizatória. A diferença, acredito, está na dinâmica com que esses padrões estão sendo manipulados globalmente com fins estritamente financeiros. O pior é que as diferenças regionais estão aos poucos desaparecendo, ou seja, a aldeia global está tentando massificar os diferentes biótipos em um só.   
Enfim, existe um padrão claro de beleza que é manipulado conforme interesses de mercado há quase 100 anos no ocidente e atualmente no oriente. Se pesquisar o porquê do padrão da mulher mudar de volupiosa para as linhas retas cultuadas no ocidente a partir do início do século XX verá que está diretamente associada à escassez de tecidos para vestidos, proveniente do fornecimento obrigatório de fardas para a primeira guerra mundial e a nova economia promovida pela filosofia fordista-taylorista.  
O encurtamento progressivo dos vestidos e saias até a década de 40 do século XX também é associado à guerras e crises econômicas.  A volumosa vestimenta feminina a partir da década de 50 com anáguas, cintas modeladoras, e até um tipo de armação em saias e vestidos foi promovida para enquadrar a mulher de volta ao seu lar.  Pergunte a sua avó ou bisavó como essa armadura era desconfortável. Fazia parte de um movimento governamental americano para conseguir mais postos de trabalho para os homens que retornavam da guerra. Mas isso é história registrada e documentada. A queima dos sutiãs na década de 60 teve motivos muito mais profundos quando a gente pára e pensa um pouco no microambiente do contexto histórico e econômico. Foi a revolta contra a “armadura” também! (brincadeirinha).
Isso interfere diretamente nos relacionamentos dentro da célula (relação homem-mulher/família) do tecido social. Apesar de todo o nosso avanço tecnológico, o nosso avanço enquanto indivíduos e sociedade ainda tateiam as mesmas fibras dos modelos sociais medievais e antigos. Ainda cometemos os mesmos erros só que num contexto “high tech”.Num mundo tão competitivo, deve-se tomar cuidado com quem se relaciona para filhos e casamento. Somente os melhores genes podem garantir uma vantagem competitiva e uma preservação da linhagem familiar.  Tem até filme sobre isso (Gattaca) e empresas que garantem a inseminação artificial com alta qualidade na seleção genética e tecnologia de ponta para aqueles que se preocupam com isso. Se a empresa existe e sobrevive então podemos afirmar que existem pessoas que consomem esse ‘produto’.
 Agora me diga, se convenço alguém a se mutilar pra ficar ‘bonito’, para comprar o que não precisa, para viver onde não quer e comer o que vai matá-lo; é muito fácil convencê-lo também de que aquela excitação inicial promovida, quem sabe, por algum perfume com feronômios, é amor verdadeiro. Principalmente se vier associado à uma progressão social e melhora na condição financeira.  Mesmo que sua alma não possa ser enganada.

A alma não pode ser enganada, todavia pode ser aprisionada na teia das crenças e costumes de seu meio convivendo com quem não quer. Viverá anos tentando negar a si mesma a libertação por conta de um custo social e econômico. Viverá infeliz? Claro. Daí poderá consumir vários tratamentos terapêuticos, tudo tem cura desde que se tenha dinheiro para consumir. Criará seus filhos nesse modelo e perpetuará essa cultura. Quanto mais infeliz e insatisfeito mais consumirá. Essa é a lógica perversa. 
E o que a sustentabilidade tem haver com isso tudo? Simples: se individualmente vivemos aprisionados em costumes e crenças de inadequação e idealismo, reféns de uma perversa dinâmica de consumo baseada na eterna insatisfação humana e relegamos os relacionamentos íntimos ao mesmo patamar de produto como poderemos pensar em mudar as coisas de modo legítimo? Como ser sustentável? Como passar essa nova ética para nossas criançasÉ algo pra refletir...