“Às vezes, penso que a
dignidade do homem
Parece que foi leiloada
Violência contra os idosos, doente na fila, polícia comprada
Juventude perdida, gente sem comida
Jovem com barriga, vida com ferida
Intriga, nessa corrida, será que esse beco
Ainda tem uma saída?”
Violência contra os idosos, doente na fila, polícia comprada
Juventude perdida, gente sem comida
Jovem com barriga, vida com ferida
Intriga, nessa corrida, será que esse beco
Ainda tem uma saída?”
Scrab de Maria Carolina
Lins no facebook em 09/03/2012.
Uma jovem, em seus 20 anos de idade, postou um pequeno poema
no facebook que nos remete a refletir sobre como anda a sustentabilidade nas
inter-relações sociais e o que tudo isso imprime em novas significâncias ao que
se assume como civilização humana.
Partindo do pressuposto que sustentabilidade conceitualmente
é o equilíbrio entre três aspectos fundamentais: o social, o ambiental e o
econômico, a fim de promover o desenvolvimento no atendimento das
necessidades humanas atuais preservando as mesmas possibilidades de suprimento
para as gerações futuras; podemos refletir sobre como as atuais demandas
sociais se dão nas dinâmicas estabelecidas no processo civilizatório e ‘como’ isso
significa e o que realmente representa em termos semióticos.
Não se fazem necessárias grandes e profundas pesquisas para
constatar que a percepção de dignidade claramente mudou na medida em que hoje
presenciamos e vivemos, no dia-a-dia, situações muitas vezes inusitadas. Percebemos
que existe, na prática, algo muito diferente do que muitos de nós concebemos
como certo e errado, a partir dos símbolos que representam, tradicionalmente, os
valores morais que sustentam a ética promulgada abertamente em nossa
civilização.
Esse Paradoxo de S.Petesburgo permeia as nossas relações
cotidianas e nossas esperanças de modo perverso, se imprimirmos o significado
de recursos naturais e princípios éticos às moedas de Bernoulli (1687-1759). Esclarecendo, para aqueles que não são
matemáticos, o paradoxo condicional: “Pessoas oferecerão somente uma taxa
modesta por uma recompensa de valor infinito”, todavia poderão esgotar seus
recursos finitos pagando essa taxa milhares de vezes até que obtenham a recompensa.
O problema está em definirmos o significado da recompensa de
valor infinito...e ficarmos atentos nas probabilidades de conquistá-la por
apenas uma modesta taxa.
É como jogar na loteria e ter a certeza de obter o
prêmio na primeira vez que se joga. E o que significa a loteria senão a
recompensa de valores infinitos por uma modesta taxa? Considerando a teoria das
probabilidades, poderemos conquistar o prêmio com toda certeza, após apostarmos
dois reais cerca de cinquenta milhões de vezes. (a probabilidade de ganho com
um jogo é de 0,000002% ou 1/50063860).
O ganho é garantido, porém esgotaremos
nossos recursos de tal forma que, quando nossa hora chegar, o prêmio não valerá mais a pena mediante o dispêndio que tivemos para obtê-lo. Nisso nunca se
pensa...
Será que efetivamente consideramos os recursos naturais como
“pricelless” ou nossos princípios ou ainda nossas posses?
As instituições criadas nos últimos duzentos anos para
garantir a convivência e o desenvolvimento da civilização humana, passam hoje
pela corrosão de suas essências em prol da manutenção de pequenos grupos ou
indivíduos cujo objetivo é a sobrevivência a qualquer preço.
Aprendemos em
tenra idade que: “Os seres humanos são animais racionais, ou seja, animais que
possuem capacidade de raciocinar, não agindo somente por instinto”. Isso
significa que as “taxas modestas” já estão naquele momento paradoxal de
exaustão dos recursos finitos. No passado, grupos humanos migraram para outras
partes do planeta, hoje já não temos para onde ir. Somente se tivermos outro
planeta semelhante ao nosso. Prevalecerá então a rudimentar lei do ‘mais forte’?
No mês passado, um grupo seleto de cientistas, premiados pelo
Nobel do Meio Ambiente(Prêmio Planeta Azul), já prevendo que talvez a Rio+20
venha a fracassar, escreveu um documento
exortando os governos a trabalharem mais atentamente sobre as questões de
governança.
Lendo as conclusões do documento, para muitos de nós parece
uma coisa óbvia de se fazer, contudo o que significa realmente? O que simboliza
e como seu significado realmente nos afeta no dia a dia para que nossa mudança
comportamental sobre o consumo e nosso papel social, diante do cenário de Poder
atual se torne efetivamente ecológica(com todos os significados que essa palavra possui)? Os 27 princípios da
Carta da Rio-92 realmente contribuíram para um direcionamento das políticas
públicas, todavia o que significaram efetivamente?
A dicotomia semiótica está em não percebermos que sobreviver não
significa somente acúmulo de bens e riquezas. O dinheiro evoluiu em seu
significado perdendo o vínculo com o humano. Não é mais um papel que representa
suas posses e sim um papel que representa sua viabilidade de humanidade, de “ser”
humano. Isso pode ser constatado em todo o planeta nas dinâmicas de mercado e
nas dinâmicas políticas.
Então, acontecimentos cotidianos e fragmentados como
uma Tv chinesa denunciando grandes redes por venderem produtos vencidos ou uma
deputada federal utilizando as horas de plenário para exortar a religião, num
país declarado laico, para prática de karaokê com gastos pessoais de mais de 90mil reais nos últimos 6 meses - Representante pública, atuando como suplente na comissão
de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, cuja relevância política nesse
período limitou-se à lembrar a Presidenta que estudante paga meia entrada na
Copa e à apresentação de um projeto de lei obrigando as operadoras de celular a substituírem
aparelhos defeituosos - devem ser
analisados sobre outra ótica.
O que simbolizam exatamente quando analisados sob
o mesmo contexto global? E o como esses significados impactam nessa nova
atmosfera social e em cada individualidade humana do planeta? Como simbolizamos e significamos o “humano”?
E o Social? Como esses símbolos afetam nossos processos decisórios individuais
e coletivos em prol da preservação do planeta e de nós mesmos?
Essa ignorância reproduzindo ignorância, tal como um ‘câncer’ social, tem cura? Tem, com certeza, porém, simbolicamente falando, requer bem mais do que adotar a oroboro como símbolo da atual fase civilizatória, justificando a priorização do ego individual como forma dinâmica de evolução desconectado do ambiente (que supõe-se imutável, perene, infinito em recursos e imutável) conforme analisa sabiamente Jean Baudrillard.
Requer a reintegração do homem vitruviano às linhas de frente da sociedade contemporânea nessa simbologia para que a sociedade não se esqueça, pelo menos, da necessária e vital sincronia simétrica entre o ser humano e o universo.