Fazendo um mundo melhor.

Esse blog foi uma iniciativa surgida a partir de uma página criada há alguns meses no Facebook. Os textos e links disponíveis interagem com os posts na página "Criando Sustentabilidade".
A proposta do blog é contribuir para uma legitimação e execução de ações sustentáveis individual e coletivamente.
Tentaremos informar, educar e esclarecer alguns pontos sempre obscuros nesse tema.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Semiótica da sobrevivência


“Às vezes, penso que a dignidade do homem
Parece que foi leiloada
Violência contra os idosos, doente na fila, polícia comprada
Juventude perdida, gente sem comida
Jovem com barriga, vida com ferida
Intriga, nessa corrida, será que esse beco
Ainda tem uma saída?”
Scrab de Maria Carolina Lins no facebook em 09/03/2012.

Uma jovem, em seus 20 anos de idade, postou um pequeno poema no facebook que nos remete a refletir sobre como anda a sustentabilidade nas inter-relações sociais e o que tudo isso imprime em novas significâncias ao que se assume como civilização humana.

Partindo do pressuposto que sustentabilidade conceitualmente é o equilíbrio entre três aspectos fundamentais: o social, o ambiental e o econômico, a fim de promover o  desenvolvimento no atendimento das necessidades humanas atuais preservando as mesmas possibilidades de suprimento para as gerações futuras; podemos refletir sobre como as atuais demandas sociais se dão nas dinâmicas estabelecidas no processo civilizatório e ‘como’ isso significa e o que realmente representa em termos semióticos.

Não se fazem necessárias grandes e profundas pesquisas para constatar que a percepção de dignidade claramente mudou na medida em que hoje presenciamos e vivemos, no dia-a-dia, situações muitas vezes inusitadas. Percebemos que existe, na prática, algo muito diferente do que muitos de nós concebemos como certo e errado, a partir dos símbolos que representam, tradicionalmente, os valores morais que sustentam a ética promulgada abertamente em nossa civilização.

Esse Paradoxo de S.Petesburgo permeia as nossas relações cotidianas e nossas esperanças de modo perverso, se imprimirmos o significado de recursos naturais e princípios éticos às moedas de Bernoulli (1687-1759).   Esclarecendo, para aqueles que não são matemáticos, o paradoxo condicional: “Pessoas oferecerão somente uma taxa modesta por uma recompensa de valor infinito”, todavia poderão esgotar seus recursos finitos pagando essa taxa milhares de vezes até que obtenham a recompensa.

O problema está em definirmos o significado da recompensa de valor infinito...e ficarmos atentos nas probabilidades de conquistá-la por apenas uma modesta taxa. 

É como jogar na loteria e ter a certeza de obter o prêmio na primeira vez que se joga. E o que significa a loteria senão a recompensa de valores infinitos por uma modesta taxa? Considerando a teoria das probabilidades, poderemos conquistar o prêmio com toda certeza, após apostarmos dois reais cerca de cinquenta milhões de vezes. (a probabilidade de ganho com um jogo é de 0,000002% ou 1/50063860). 

O ganho é garantido, porém esgotaremos nossos recursos de tal forma que, quando nossa hora chegar, o prêmio não valerá mais a pena mediante o dispêndio que tivemos para obtê-lo. Nisso nunca se pensa...

Será que efetivamente consideramos os recursos naturais como “pricelless” ou nossos princípios ou ainda nossas posses? 

As instituições criadas nos últimos duzentos anos para garantir a convivência e o desenvolvimento da civilização humana, passam hoje pela corrosão de suas essências em prol da manutenção de pequenos grupos ou indivíduos cujo objetivo é a sobrevivência a qualquer preço. 

Aprendemos em tenra idade que: “Os seres humanos são animais racionais, ou seja, animais que possuem capacidade de raciocinar, não agindo somente por instinto”. Isso significa que as “taxas modestas” já estão naquele momento paradoxal de exaustão dos recursos finitos. No passado, grupos humanos migraram para outras partes do planeta, hoje já não temos para onde ir. Somente se tivermos outro planeta semelhante ao nosso. Prevalecerá então a rudimentar lei do ‘mais forte’?

No mês passado, um grupo seleto de cientistas, premiados pelo Nobel do Meio Ambiente(Prêmio Planeta Azul), já prevendo que talvez a Rio+20 venha a fracassar, escreveu  um documento exortando os governos a trabalharem mais atentamente sobre as questões de governança.

Lendo as conclusões do documento, para muitos de nós parece uma coisa óbvia de se fazer, contudo o que significa realmente? O que simboliza e como seu significado realmente nos afeta no dia a dia para que nossa mudança comportamental sobre o consumo e nosso papel social, diante do cenário de Poder atual se torne efetivamente ecológica(com todos os significados que essa palavra possui)? Os 27 princípios da Carta da Rio-92 realmente contribuíram para um direcionamento das políticas públicas, todavia o que significaram efetivamente?

A dicotomia semiótica está em não percebermos que sobreviver não significa somente acúmulo de bens e riquezas. O dinheiro evoluiu em seu significado perdendo o vínculo com o humano. Não é mais um papel que representa suas posses e sim um papel que representa sua viabilidade de humanidade, de “ser” humano. Isso pode ser constatado em todo o planeta nas dinâmicas de mercado e nas dinâmicas políticas. 

Então, acontecimentos cotidianos e fragmentados como uma Tv chinesa denunciando grandes redes por venderem produtos vencidos ou uma deputada federal utilizando as horas de plenário para exortar a religião, num país declarado laico, para prática de karaokê com gastos pessoais de mais de 90mil reais nos últimos 6 meses - Representante pública, atuando como suplente na comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, cuja relevância política nesse período limitou-se à lembrar a Presidenta que estudante paga meia entrada na Copa e à apresentação de um projeto de lei obrigando as operadoras de celular a substituírem aparelhos defeituosos -  devem ser analisados sobre outra ótica. 
O que simbolizam exatamente quando analisados sob o mesmo contexto global? E o como esses significados impactam nessa nova atmosfera social e em cada individualidade humana do planeta? Como simbolizamos e significamos o “humano”? E o Social? Como esses símbolos afetam nossos processos decisórios individuais e coletivos em prol da preservação do planeta e de nós mesmos?

A Semiótica da sobrevivência deve ser estudada com muito critério nesse novo milênio. Governança é importante e peça fundamental para continuarmos nossa existência enquanto humanidade, contudo ela só pode desenvolver-se quando compreendermos o que nos motiva, o que exatamente nos mobiliza para uma efetiva mudança.  Não uma mudança para pior, aleijando o desenvolvimento cognitivo das novas gerações com uma sutil ignorância, orquestrada numa melodia de hiper informação, impossibilitando os passos e o ritmo necessários para a construção do devido conhecimento para sobrevivermos. 


Essa ignorância reproduzindo ignorância, tal como um ‘câncer’ social, tem cura? Tem, com certeza, porém, simbolicamente falando, requer bem mais do que adotar a oroboro como símbolo da atual fase civilizatória, justificando a priorização do ego individual como forma dinâmica de evolução desconectado  do ambiente (que supõe-se imutável, perene, infinito em recursos e imutável) conforme analisa sabiamente Jean Baudrillard. 




 Requer a reintegração do homem vitruviano às linhas de frente da sociedade contemporânea nessa simbologia para que a sociedade não se esqueça, pelo menos, da necessária e vital sincronia simétrica entre o ser humano e o universo.