
Tomate é apenas o
símbolo do momento para um assunto e uma questão mais séria: Por que tudo custa mais caro no Brasil? Isso, no fim das contas é que é o bisonho.... Nossa falta
de senso para consumir e praticar estratégia de preço. Seja do Tomate, seja do carro,
seja do que for. Algumas matérias vinculadas, esse mês, tratam do assunto com maior propriedade.
A questão talvez esteja no que os especialistas chamam de “Efeito
Tulipa”. Mesmo não sabendo o que significa exatamente esse efeito, percebo que
a maioria das pessoas começam a se incomodar com essa insana estratégia de
preços, intuitivamente começam a questionar como tudo é tão caro e como os
preços continuam subindo.
Enfim, Efeito Tulipa: “Mania das tulipas, tulipomania,
tulipamania, febre da tulipa ou crise das tulipas são expressões referentes a
um episódio da História dos Países Baixos que deu origem à primeira bolha
especulativa conhecida. Hoje, tais termos são aplicados metaforicamente a
qualquer bolha especulativa em grande escala.” (STRATHEM, 2003 p.24).
Essa mania das tulipas levou os holandeses no século XVI a
uma crise econômica sem precedentes. Segundo o mesmo autor:
![]() |
tulipa semper augustus |
As tulipas foram introduzidas nos Países
Baixos no século XVI. Suas flores, muito apreciadas por sua beleza, passaram a
ser muito procuradas, favorecendo o aumento dos preços. Com o passar dos anos,
os preços aumentavam cada vez mais rápido, tornando o comércio de bulbos de
tulipas bastante lucrativo. Pessoas de todas as classes vendiam propriedades
para investir em tulipas, e em meados da década de 1630 surgiram contratos de
futuros para negociar os bulbos antes mesmo da colheita. Em 1637, devido a
diversos fatores, houve uma perda de confiança em tais títulos, levando muitos
a uma corrida para o resgate de seus investimentos. Consequentemente, os preços
caíram subitamente, e inúmeros negociantes foram à falência. (STRATHEN,
2003,p.30)
Livro que recomendo, principalmente, o capítulo um: “Alguma
coisa surge do nada”.
Quando se analisa esse comportamento bisonho do consumidor
brasileiro, verifica-se a fase de deslumbramento e do avanço do dito “tudo tem
um preço” para o ponto em que se encontra o consumidor brasileiro: o preço é
tudo.
A dimensão econômica da sustentabilidade brasileira agora é
ameaçada pela supervalorização de coisas desprovidas de valor real intrínseco.
Reflexo de nossa “ignorância programada” ou reflexo de nosso deslumbre eufórico
depois de tantas gerações de repressão consumista? Na minha humilde opinião, é
tudo isso e mais: a institucionalização da avareza humana como traço cultural
aceito e reproduzido pela sociedade brasileira.
A avareza e a ganância
desmedidas não são próprias de uma sociedade que pretende se desenvolver civilizada e sustentável. Fato.
Voltemos aos tomates então, na lógica da criação de preços
ao consumidor, temos os custos fixos e variáveis da produção, somamos impostos
e encargos, somamos ainda o lucro mínimo pretendido pelo produtor
e....agregamos o valor do desejo do consumidor. Esse último item precisa ser
revisto, não pelo distribuidor ou pelo produtor e sim por cada um de nós,
consumidores. O foco são tomates, mas as outras frutas e legumes apresentam a
mesma lógica. Ninguém comenta porque o chuchu é verde? Ou a abobrinha? Ou o pepino então? Será algum preconceito de cor?
A noção do quanto mais caro melhor, hoje, comprovadamente é
uma grande ilusão. Só no quesito alimentação, uma busca no Google por “restaurante
fechado por falta de higiene” nos apresenta milhares de páginas vinculadas de estabelecimentos em todas as faixas de consumo. Temos preço e não temos segurança alimentar. Basta uma viagem para o exterior para comprovarmos que o caro aqui não é caro
lá e o produto é o mesmo, muitas vezes viajando até menos para chegar em nossas casas ou mesas. Porque com a tecnologia de hoje o produto viaja e viaja muito. Seja ele um bem durável ou não.
O tomate é um produto que apresenta época de safra, fim de
safra e começo de safra. Como todo produto do gênero. Não temos invernos rigorosos e em algumas regiões podemos ter safras o ano todo. Podemos cultivar qualquer coisa em praticamente todo o território nacional, inclusive em nossas casas e apartamentos. Não há realmente motivos razoáveis para tanta especulação. O CEAGESP divulga o calendário das frutas e legumes de época, mesmo essas ainda apresentam preços abusivos é o tempo próprio delas. Falta alimentos ou falta bom senso?
Se abril é época de forte comercialização de tomate, então em maio, junho e julho
época de entressafra, o pagaremos em prestações?
Consumir alimentos de época, observar o calendário completo
de safras,
é , sem sombra de dúvidas, mais saudável e mais nutritivo. Contudo, deixar de
comer esse ou aquele alimento para que o comerciante abaixe o preço, faz parte do jogo de mercado que
todo mundo faz questão de participar. Lembrando que aqui joga-se truco e não pôquer, mas na arte do blefe o comerciante é que grita "Doze"!
Talvez precisemos compreender que não é
uma questão de ter ou não o dinheiro pra pagar isso ou aquilo, mas como
negociamos para que esse dinheiro cumpra sua função social mais rudimentar de
capital dentro de um ciclo realmente produtivo, tanto local como globalmente,
gerando riqueza para toda a sociedade e não só para os 1% de sempre. Isso, negociar preços mais justos, também faz parte do conceito de sustentabilidade e da prática sustentável. No limite, quem gasta dinheiro de modo inconsequente é pobre. Rico tem uma outra relação com ele, geralmente o respeita ao ponto de negociar sempre o melhor preço.
Enfim, outra opção: o cultivo de tomates e pimentões em casa
é possível ainda e, além de decorativas, as plantas podem ser cultivadas em
vasos e pequenos espaços. Fica a dica.
Livro citado:
STRATHERN Paul. Uma breve história da economia. Jorge Zahar
Editor, 2003.