Fazendo um mundo melhor.

Esse blog foi uma iniciativa surgida a partir de uma página criada há alguns meses no Facebook. Os textos e links disponíveis interagem com os posts na página "Criando Sustentabilidade".
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Tentaremos informar, educar e esclarecer alguns pontos sempre obscuros nesse tema.

domingo, 4 de agosto de 2013

O Amarildo e a crise de valores no Brasil.

Para quem ainda se pergunta pra onde vai o gigante que acordou, o Brasil, minha contribuição vai caminhar pela ponta de um dos icebergs nesse imenso mar de complexidade, onde se pode mergulhar(frequentemente com muito espanto e terror) na pesquisa da cultura que se desenvolveu nos últimos quinhentos anos na “Hy Brazil”. (CANTARINO, 2004)
A ponta por mim escolhida: o Amarildo e seu sumiço. Longe de ser apenas um caso local,  vislumbra as bases éticas em que a sociedade brasileira parece se assentar atualmente, se reconstruindo a partir da meteórica, momentânea e historicamente cíclica prosperidade econômica.
O texto do jovem Luiz Antonio Ribeiro (2013), poeta de 28 anos, ilustra a necessidade de repensarmos como queremos uma sociedade sustentável, consciente, participativa e atuante política e socialmente. 
Mais além: como percebemos e vivenciamos o significado da palavra sociedade.
Precisamos saber o que se passa nessa forma de governar em que jovens de classe média levam bala de borracha e moradores de favela levam tiros de fuzil.“
Pois é Luiz, precisamos saber ou admitir o que já incorporamos como inquestionável e intocável ética, baseada na lógica da diferença, que emerge da temeridade decorrente da 'coisificação' do humano?

Por lógica da diferença entende-se a necessidade quase obsessiva dos brasileiros em serem tratados como nobres e superiores mediante seus pares. Os especialistas de marketing conhecem bem os comportamentos decorrentes dessa lógica e a exploram como ninguém quando da criação do valor agregado nos produtos e principalmente nos serviços.

O medo crônico e latente da ‘coisificação’ (MARX, 2003) -brilhantemente demonstrada nos Manuscritos de Paris- do significado de ser dentro da sociedade brasileira é dissecado e estudado, há anos, pelos filósofos e sociólogos de plantão na extenuante reflexão sobre como as dinâmicas sociais constroem o caleidoscópico e anárquico véu de contradição inerente nas esferas políticas e econômicas desse país.
Uma monografia muito interessante de sociologia,  “Trabalho Informal, Sofrimento e alienação noséculo XXI – o trabalho nas ruas de Salvador” de Bruno José Rodrigues Durães, nos dá um excelente embasamento teórico para esse incólume pavor sombreado e alienante. Vale à pena ler e refletir.

A ética decorrente desses fatores (o medo e a lógica da distinção) contém em si valores que se associam a significados peculiares. Analisemos a imagem que circulou nas redes sociais essa semana, excelente percepção, diga-se de passagem. Você acha reducionista e exagerada? Talvez, mas depende de onde e quais pontos você considera para entender sua profundidade e contribuição para sabermos, por exemplo, “onde está o Amarildo”...


Pontos que devemos levantar pesquisar e considerar cujas decorrências estão expressas nesse quadro:
- Nossa herança cultural de uma sociedade colonial, trezentos anos constituída economicamente com mão-de-obra escrava, sob os efeitos telúricos de uma lei medieval de D.Diniz I(1261-1325) que proibia que o trabalho braçal fosse executado pela nobreza sob pena de marginalização social. (HERCULANO, 1998)

- As históricas bases da formação militar do Brasil Colonial.  (MELLO, 2009)

- As bases antropológicas da formação do povo brasileiro e outras tantas  pérolas culturais refletidas de modo irreverente no filme "Quanto vale ou é por quilo?".
Quem sabe, depois de todo esse trabalho, quiçá entendamos a crise, o quadro, o sumiço do Amarildo, nossa indiferença e engulamos a nossa risada ao ver, pela primeira vez, essa imagem. Talvez sob o domínio da lágrima e do pesar resultantes de nossa tomada de consciência, reflitamos com mais comprometimento, sobre o momento crucial em que nos confrontamos enquanto sociedade do "conhecimento". 

Talvez, despidos de nossa conveniente e eleita alienação, possamos reinventar nosso cotidiano social, reestruturando os valores e construindo uma ética com princípios mais humanos, mais sustentáveis, mais solidários, mais honrados e coerentes. Talvez esse seja o real caminho da libertação dos grilhões de séculos de medo existencial. 

A fim de deixarmos de representar os piores aspectos de sermos a contemporaneidade dos milênios enquanto povo, agora acordados e sedentos por mudanças, possamos caminhar juntos como componentes sinérgicos de um gigante mitológico que precisa se encontrar, se educar e crescer. Talvez ao final da estrada encontraremos não só os Amarildos para um abraço, mas também a inefável felicidade de sermos 'apenas' humanos despojados de nossos títulos nobres e de nossa mentecapta arrogância. Talvez, quem sabe?  

Referências Bibliográficas

CANTARINO Geraldo Uma ilha chamada Brasil: o paraíso irlandês no passado brasileiro [Livro]. - Rio de Janeiro : Mauad, 2004.

HERCULANO Alexandre Historia de Portugal, volume 3 [Livro]. - Barcarena : Editoral Presença, 1998.

MARX Karl O trabalho alienado, primeiro manuscrito [Livro]. - São Paulo : Ed. Martin Claret, 2003.

MELLO Christiane Figueiredo Pagano de Forças Militares no Brasil Colonial: Corpos de Auxiliares e de Ordenanças na segunda metade do século XVIII [Livro]. - Rio de Janeiro : E-Papers, 2009.