Fazendo um mundo melhor.

Esse blog foi uma iniciativa surgida a partir de uma página criada há alguns meses no Facebook. Os textos e links disponíveis interagem com os posts na página "Criando Sustentabilidade".
A proposta do blog é contribuir para uma legitimação e execução de ações sustentáveis individual e coletivamente.
Tentaremos informar, educar e esclarecer alguns pontos sempre obscuros nesse tema.

domingo, 12 de abril de 2015

Quando se propõe terceirizar leis e salsichas....equilíbrio é tudo.

Em resposta ao apoio de meu representante na Camara Federal ao Projeto de Lei 4330 sobre a terceirização. Redigi o seguinte comentário.


 “Os cidadãos não poderiam dormir tranqüilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis.” Otto von Bismarck.

A terceirização enquanto proposta teórica é interessante, contudo pressupõe que, na prática, tenhamos:

v  Corporações que realmente priorizem sua função econômica essencial, ou seja, comprometidas com o desenvolvimento social e econômico da sociedade além de apenas o aumento de seus lucros anuais e distribuição de dividendos aos acionistas.
v  Um governo que realmente priorize e represente a complexa heterogeneidade de uma sociedade de modo legitimamente democrático.
v Uma ‘classe trabalhadora’ realmente organizada, autônoma e legitimamente representada sem subsídios governamentais.    
v  Pessoas que coloquem interesses coletivos acima dos interesses individuais e prezem pelo futuro.

Isso é utópico, para mencionar o mínimo que se pode considerar diante dessas hipóteses.  Reconheço.

Na minha visão como acontece na prática aqui na República das Bananas:

v  As Corporações atualmente têm como maior preocupação o aumento da lucratividade para manterem-se  ativas. Os acionistas exigem crescimento constante do lucro e aumento do patrimônio para atestarem a solidez dessas empresas e continuarem investindo. Resta a elas diminuírem cada vez mais os custos operacionais. Salário é custo na lógica do mercado financeiro.  
v  O governo é financiado pelas grandes Corporações que elegem políticos que priorizam os interesses delas.  Daí leis que cada vez mais as ajudem na manutenção da tal solidez.
v  Os sindicatos estão com seus recursos garantidos desde a aprovação da CLT(artigos 578 e 579) e as leis trabalhistas como a 6.386/76 garantem a fatia dessa contribuição compulsória ao governo.  Na prática os dirigentes sindicais não necessitam representar os trabalhadores, porque esses ‘representados’, concordando ou não com suas ações geram os recursos necessários para suas atuações e garantem o status quo desses agentes, dando-lhes poderes para defendem seus interesses individuais.  O governo recebe sua fatia e teoricamente deveria financiar o seguro-desemprego com esse dinheiro.  Ou seja, o trabalhador brasileiro paga para não ser representado integralmente e ainda, financia sua própria necessidade de emprego.
v  Esse estado de refém assola a maioria da sociedade que diante do sentimento de impotência começa a priorizar interesses individuais que se estendem, no máximo, ao seu microambiente(família e agregados). Um convite ao caos coletivo e ao estremecimento de toda a organização civilizatória de nossa atual sociedade. Impérios já caíram por muito menos ao longo da história humana.

Diante desses pontos, acredito que antes de aprovarem esse PL, terão que discutir com a sociedade e criar leis que garantam:

v  Um novo tipo de sistema financeiro que realmente exija a Governança nas Corporações e que não possam ser comprovadas apenas como itens contábeis.
v  A proibição de financiamento de campanhas eleitorais pelas pessoas jurídicas.  O cumprimento fiel das leis já em vigência por quem ocupa cargos públicos. A aplicação de 100% dos impostos arrecadados para os fins predeterminados nos planos e orçamentos  públicos nas três esferas governamentais.  Políticos mais íntegros e comprometidos.
v  O fim da contribuição compulsória e a desvinculação monetária dos sindicatos ao governo sobre essa contribuição.  Ao governo caberá apenas fiscalizar suas atuações e os sindicatos pagarão impostos como todas as entidades representativas.
v  Um programa de educação que priorize o desenvolvimento  da análise crítica e lógica de todos os seus cidadãos e não a sua atrofia intencional(como se verifica nos últimos vinte anos nas esferas mais desfavorecidas de nossa sociedade) para que as pessoas sejam estimuladas a considerar a perpetuação da civilização e seu equilíbrio com maior segurança e confiança.


E se tudo der certo, em mais ou menos cem anos, teremos um país onde a terceirização, do jeito que está proposta nesse projeto de lei, será um grande avanço. Apenas uma questão de equilíbrio.

terça-feira, 11 de março de 2014

"Quo vadis,domini?" - A complexa ignorância social brasileira


O que rodou  no meu feed de notícias essa semana me fez parar pra refletir de novo sobre alguns pontos que acho importantes sobre tudo que venho constatando nos últimos tempos, dois posts me chamaram atenção pela paradoxal mas relativa radicalização da nescidade atilada de algumas pessoas. Sagazes representações da complexidade da atual ignorância social que permeia nossa promissora e futurística sociedade. 





As contradições de uma sociedade onde a principal ambição da pequena burguesia é ter título de nobreza......depois me chamam de comunista quando cito a "coisificação" da condição humana aqui no Brasil.Pena que filmes como "Quanto Vale? É por quilo?" não passam na hora da novela.....A extinção do debate e da reflexão sobre os rumos de nossa sociedade se resume na ignorância e no radicalismo caricato que vemos nesse tipo de discurso tão difundido nas redes sociais. 
A complexidade de nossa condição, enquanto seres sociais, não pode ser representada linearmente e nem de modo maniqueísta em ícones como estes. 
Existem abusos institucionalizados historicamente em nossa trajetória nacional que contribuíram e contribuem para esse abismo social que cultivamos silenciosa e sigilosamente no profunda leveza das entranhas de nossos significantes de ser humano.  
Somos todos cúmplices, independente de classe ou casta social. 
Bolsa família como esmola de compensação e a exploração de alguns nichos, tradicionalmente não mercadológicos, sob a égide de "Programa Social" atendendo aos interesses dos herméticos e elitistas grupos de sempre, também não são a resposta. 
O ponto, enfim, não são os Rigobertos nem aqueles que adorariam estar na "pele" dele  e por isso o arquétipo (porque a alienação também é algo invejável algumas vezes, lucidez social impotente também cansa e sai de rolezinho pro shopping ao ritmo do funk) é a disposição de todos nós em construirmos uma governança legítima, justa, complicada, sofrida, pensada, articulada, discutida e extenuante não para nós que aqui estamos mas para aqueles que ainda virão e viverão de nossos despojos e bens depois que a festa acabar.  
 No fim, admitamos, nenhum de nós está muito preocupado com o futuro da sociedade brasileira. Mesmo que ela se traduza em nossos descendentes diretos.
 Incorporamos o refrão "Brasil, o país do futuro" da forma mais conveniente a cada clã familiar existente hoje. Sob o prisma sociológico não queremos mais pescar, nem queremos exatamente só o peixe. Sem prazer não tem graça e se não tem graça não brincamos mais.
O hedonismo é nossa ética norteante dos rumos e caminhos em que estamos e para onde desejamos ir. Já nos adaptamos conformada e confortavelmente à bonança e à prosperidade. 
Admitamos: não sabemos o exato significado de complexidade social porque nos tornamos racionalmente indolentes no atuar e no pensar políticas mais equânimes de convivência e sobrevivência. Sacrifícios e noites sem dormir apenas se tiver o tom de "balada" nas asas do Redbull
 Há uma crise fora do quadrado de cada um que não interessa à nenhum de nós realmente. Algum tempo atrás, vi a foto de Karl Max postada aqui. Será que era uma piada mesmo? Fica a dica. 
Pensemos, sem prazer, com objetividade e temperança. Sacrifiquemos nossa atual alienação não pelo radicalismo arcaico e disfuncional baseado na ilusória segurança do acúmulo de bens pessoais, mas pela reconvalescença de nossa sociedade. Talvez assim o prazer se torne virtuoso e nos traga a garantia de nossa preponderância, não apenas como sociedade, como espécie humana sobre esse planeta que continuará existindo com ou sem a gente mais alguns bilhões de anos. Falei. 

     

domingo, 4 de agosto de 2013

O Amarildo e a crise de valores no Brasil.

Para quem ainda se pergunta pra onde vai o gigante que acordou, o Brasil, minha contribuição vai caminhar pela ponta de um dos icebergs nesse imenso mar de complexidade, onde se pode mergulhar(frequentemente com muito espanto e terror) na pesquisa da cultura que se desenvolveu nos últimos quinhentos anos na “Hy Brazil”. (CANTARINO, 2004)
A ponta por mim escolhida: o Amarildo e seu sumiço. Longe de ser apenas um caso local,  vislumbra as bases éticas em que a sociedade brasileira parece se assentar atualmente, se reconstruindo a partir da meteórica, momentânea e historicamente cíclica prosperidade econômica.
O texto do jovem Luiz Antonio Ribeiro (2013), poeta de 28 anos, ilustra a necessidade de repensarmos como queremos uma sociedade sustentável, consciente, participativa e atuante política e socialmente. 
Mais além: como percebemos e vivenciamos o significado da palavra sociedade.
Precisamos saber o que se passa nessa forma de governar em que jovens de classe média levam bala de borracha e moradores de favela levam tiros de fuzil.“
Pois é Luiz, precisamos saber ou admitir o que já incorporamos como inquestionável e intocável ética, baseada na lógica da diferença, que emerge da temeridade decorrente da 'coisificação' do humano?

Por lógica da diferença entende-se a necessidade quase obsessiva dos brasileiros em serem tratados como nobres e superiores mediante seus pares. Os especialistas de marketing conhecem bem os comportamentos decorrentes dessa lógica e a exploram como ninguém quando da criação do valor agregado nos produtos e principalmente nos serviços.

O medo crônico e latente da ‘coisificação’ (MARX, 2003) -brilhantemente demonstrada nos Manuscritos de Paris- do significado de ser dentro da sociedade brasileira é dissecado e estudado, há anos, pelos filósofos e sociólogos de plantão na extenuante reflexão sobre como as dinâmicas sociais constroem o caleidoscópico e anárquico véu de contradição inerente nas esferas políticas e econômicas desse país.
Uma monografia muito interessante de sociologia,  “Trabalho Informal, Sofrimento e alienação noséculo XXI – o trabalho nas ruas de Salvador” de Bruno José Rodrigues Durães, nos dá um excelente embasamento teórico para esse incólume pavor sombreado e alienante. Vale à pena ler e refletir.

A ética decorrente desses fatores (o medo e a lógica da distinção) contém em si valores que se associam a significados peculiares. Analisemos a imagem que circulou nas redes sociais essa semana, excelente percepção, diga-se de passagem. Você acha reducionista e exagerada? Talvez, mas depende de onde e quais pontos você considera para entender sua profundidade e contribuição para sabermos, por exemplo, “onde está o Amarildo”...


Pontos que devemos levantar pesquisar e considerar cujas decorrências estão expressas nesse quadro:
- Nossa herança cultural de uma sociedade colonial, trezentos anos constituída economicamente com mão-de-obra escrava, sob os efeitos telúricos de uma lei medieval de D.Diniz I(1261-1325) que proibia que o trabalho braçal fosse executado pela nobreza sob pena de marginalização social. (HERCULANO, 1998)

- As históricas bases da formação militar do Brasil Colonial.  (MELLO, 2009)

- As bases antropológicas da formação do povo brasileiro e outras tantas  pérolas culturais refletidas de modo irreverente no filme "Quanto vale ou é por quilo?".
Quem sabe, depois de todo esse trabalho, quiçá entendamos a crise, o quadro, o sumiço do Amarildo, nossa indiferença e engulamos a nossa risada ao ver, pela primeira vez, essa imagem. Talvez sob o domínio da lágrima e do pesar resultantes de nossa tomada de consciência, reflitamos com mais comprometimento, sobre o momento crucial em que nos confrontamos enquanto sociedade do "conhecimento". 

Talvez, despidos de nossa conveniente e eleita alienação, possamos reinventar nosso cotidiano social, reestruturando os valores e construindo uma ética com princípios mais humanos, mais sustentáveis, mais solidários, mais honrados e coerentes. Talvez esse seja o real caminho da libertação dos grilhões de séculos de medo existencial. 

A fim de deixarmos de representar os piores aspectos de sermos a contemporaneidade dos milênios enquanto povo, agora acordados e sedentos por mudanças, possamos caminhar juntos como componentes sinérgicos de um gigante mitológico que precisa se encontrar, se educar e crescer. Talvez ao final da estrada encontraremos não só os Amarildos para um abraço, mas também a inefável felicidade de sermos 'apenas' humanos despojados de nossos títulos nobres e de nossa mentecapta arrogância. Talvez, quem sabe?  

Referências Bibliográficas

CANTARINO Geraldo Uma ilha chamada Brasil: o paraíso irlandês no passado brasileiro [Livro]. - Rio de Janeiro : Mauad, 2004.

HERCULANO Alexandre Historia de Portugal, volume 3 [Livro]. - Barcarena : Editoral Presença, 1998.

MARX Karl O trabalho alienado, primeiro manuscrito [Livro]. - São Paulo : Ed. Martin Claret, 2003.

MELLO Christiane Figueiredo Pagano de Forças Militares no Brasil Colonial: Corpos de Auxiliares e de Ordenanças na segunda metade do século XVIII [Livro]. - Rio de Janeiro : E-Papers, 2009.