A quatro anos do balanço das Metas do Milênio tivemos avanços e retrocessos. Como dizia uma sábia professora de ginásio que tive, avançamos a passos de caranguejo “dois par trás e um para frente”. Lentamente, no tropeço, caminhamos para uma mudança de vida compulsória. O elogio proferido pelo Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon aos movimentos sociais e redes de organizações não governamentais em Nairóbi no Fórum de Cooperação China-Africa(FOCAC) mês passado ressaltou a importância e a influência desses movimentos para uma sustentabilidade mais concreta em termos de energia renovável e condições de vida. Contudo, a humanidade segue trôpega no maior “corredor polonês” da história: entre tapas e murros tenta avançar rumo a um modo de vida mais sustentável e mais coerente com as condições ambientais do planeta. As fileiras que compõem esse corredor são formadas pelas pessoas que detêm maior renda e maior poder no mundo e que se apegam num raciocínio lógico atomístico para manterem-se nessa condição.
O grande problema hoje nem são mais as questões ideológicas e sociais, o grande problema é que o planeta, a conhecida Natureza não faz acepção de pessoas por condição social ou financeira e não está nem aí para hipocrisias e discursos politicamente corretos. A natureza nunca levou o ser humano à sério até agora. Pela freqüência de eventos naturais e a proeminência de um aquecimento global, em minha opinião a natureza finalmente reparou em nós e nos enxergou como uma bactéria maligna que deve ser exterminada.
Parece que o que todos torcem é que esse extermínio ocorra o mais lentamente possível para que o problema seja transferido para a próxima geração. O que ninguém parece introjetar é que talvez não existam gerações futuras de seres humanos se as soluções e alternativas não transpuserem o mundo das idéias e virarem ações concretas.
Pelos relatórios de várias divisões da ONU, em 30 anos as condições do planeta ficarão insustentáveis para a vida humana, mesmo para aqueles com muito dinheiro. Sempre é bom lembrar às pessoas que comida e água não brotam em supermercados, perece bobagem, mas muita gente pensa assim: “Vou ganhar muito dinheiro para poder comprar comida quando tudo estiver acabando”. Então, fico imaginando essas pessoas indo até um solo ressequido, olhando para o céu e dizendo: “OK quanto você cobra para chover aqui nessa horta?”. Parece absurdo? Bom, existiram civilizações que matavam um ser humano por dia só para garantir que o Sol raiasse.
Exemplo dessas eternas contradições humanas nesse momento:
A notícia vinculada no último sábado pelo New York Times sobre o abandono do Plano de Regras para a Qualidade do Ar pelo Presidente Obama, sob protestos da EPA(Environmental Protection Agency), nos Estados Unidos e seu argumento para a medida tomada, leva a crer que lá ainda se discursa sobre uma condição econômica que pouco tem haver com a realidade da condição dos recursos naturais atualmente.
Enquanto a ONU discute e defende a produção local para o resgate das atuais condições de pobreza das populações mundiais e desenvolvimento social, os Estados Unidos esperam manter as coisas como estão e usufruir mais e mais dos recursos restantes no planeta. É insano que para um alimento chegar à mesa de um americano comum ele tenha que viajar 2.400 milhas, todavia isso acontece.
O mais bizarro é que o povo americano está contra toda essa política de ganhos financeiros irracionais. Conhecido no mundo todo pelo talento de superar crises, criatividade e coesão social em momentos de crise, esse povo sempre foi uma referência bem noticiada e propagada de que o sistema democrático pode dar certo. Até para eles a coisa é absurda! A marcha de 12 de março último em Madison Wisconsin, pouco noticiado aqui, foi um sinal de que tudo deve ser repensado.
Gerar empregos numa estrutura econômica que já provou estar falida é no mínimo comparável com as políticas que os EUA sempre combateram em outros países menos desenvolvidos. Parece que agora esses países considerados subdesenvolvidos por abrigarem sistemas governamentais não participativos e corruptos estão, na contramão da história, servindo de inspiração para que os atuais dirigentes norte americanos propaguem suas políticas privativas e elitistas baseadas no medo e na aflição constantes de ataques como o de 11 de setembro. Como nas ditaduras africanas e latinoamericanas, tão criticadas pela desumanização e exploração de suas populações. O jargão “walk like an egyptian” utilizado pelos manifestantes em Madison não soou por acaso.
Conversando com um jovem adolescente outro dia, fiquei admirada com o raciocínio simples daquele garoto: “Se tudo é interligado na natureza, as relações humanas também devem seguir essa mesma interligação. Então quando se criam políticas de emprego sem pensar nos impactos ambientais, terá que se criar outra política de saúde, pois com certeza haverá conseqüências. Isso poderá aumentar os custos governamentais e por conseqüência aumento de impostos e mais uma vez, em algum momento, uma inviabilidade que gerará outra demanda ainda pior.” Minha pergunta é: será que esse adolescente enxerga mais além do que aqueles que estão presos à uma delusão de riqueza e poder? Uma boa pergunta!
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