Fazendo um mundo melhor.

Esse blog foi uma iniciativa surgida a partir de uma página criada há alguns meses no Facebook. Os textos e links disponíveis interagem com os posts na página "Criando Sustentabilidade".
A proposta do blog é contribuir para uma legitimação e execução de ações sustentáveis individual e coletivamente.
Tentaremos informar, educar e esclarecer alguns pontos sempre obscuros nesse tema.

domingo, 4 de agosto de 2013

O Amarildo e a crise de valores no Brasil.

Para quem ainda se pergunta pra onde vai o gigante que acordou, o Brasil, minha contribuição vai caminhar pela ponta de um dos icebergs nesse imenso mar de complexidade, onde se pode mergulhar(frequentemente com muito espanto e terror) na pesquisa da cultura que se desenvolveu nos últimos quinhentos anos na “Hy Brazil”. (CANTARINO, 2004)
A ponta por mim escolhida: o Amarildo e seu sumiço. Longe de ser apenas um caso local,  vislumbra as bases éticas em que a sociedade brasileira parece se assentar atualmente, se reconstruindo a partir da meteórica, momentânea e historicamente cíclica prosperidade econômica.
O texto do jovem Luiz Antonio Ribeiro (2013), poeta de 28 anos, ilustra a necessidade de repensarmos como queremos uma sociedade sustentável, consciente, participativa e atuante política e socialmente. 
Mais além: como percebemos e vivenciamos o significado da palavra sociedade.
Precisamos saber o que se passa nessa forma de governar em que jovens de classe média levam bala de borracha e moradores de favela levam tiros de fuzil.“
Pois é Luiz, precisamos saber ou admitir o que já incorporamos como inquestionável e intocável ética, baseada na lógica da diferença, que emerge da temeridade decorrente da 'coisificação' do humano?

Por lógica da diferença entende-se a necessidade quase obsessiva dos brasileiros em serem tratados como nobres e superiores mediante seus pares. Os especialistas de marketing conhecem bem os comportamentos decorrentes dessa lógica e a exploram como ninguém quando da criação do valor agregado nos produtos e principalmente nos serviços.

O medo crônico e latente da ‘coisificação’ (MARX, 2003) -brilhantemente demonstrada nos Manuscritos de Paris- do significado de ser dentro da sociedade brasileira é dissecado e estudado, há anos, pelos filósofos e sociólogos de plantão na extenuante reflexão sobre como as dinâmicas sociais constroem o caleidoscópico e anárquico véu de contradição inerente nas esferas políticas e econômicas desse país.
Uma monografia muito interessante de sociologia,  “Trabalho Informal, Sofrimento e alienação noséculo XXI – o trabalho nas ruas de Salvador” de Bruno José Rodrigues Durães, nos dá um excelente embasamento teórico para esse incólume pavor sombreado e alienante. Vale à pena ler e refletir.

A ética decorrente desses fatores (o medo e a lógica da distinção) contém em si valores que se associam a significados peculiares. Analisemos a imagem que circulou nas redes sociais essa semana, excelente percepção, diga-se de passagem. Você acha reducionista e exagerada? Talvez, mas depende de onde e quais pontos você considera para entender sua profundidade e contribuição para sabermos, por exemplo, “onde está o Amarildo”...


Pontos que devemos levantar pesquisar e considerar cujas decorrências estão expressas nesse quadro:
- Nossa herança cultural de uma sociedade colonial, trezentos anos constituída economicamente com mão-de-obra escrava, sob os efeitos telúricos de uma lei medieval de D.Diniz I(1261-1325) que proibia que o trabalho braçal fosse executado pela nobreza sob pena de marginalização social. (HERCULANO, 1998)

- As históricas bases da formação militar do Brasil Colonial.  (MELLO, 2009)

- As bases antropológicas da formação do povo brasileiro e outras tantas  pérolas culturais refletidas de modo irreverente no filme "Quanto vale ou é por quilo?".
Quem sabe, depois de todo esse trabalho, quiçá entendamos a crise, o quadro, o sumiço do Amarildo, nossa indiferença e engulamos a nossa risada ao ver, pela primeira vez, essa imagem. Talvez sob o domínio da lágrima e do pesar resultantes de nossa tomada de consciência, reflitamos com mais comprometimento, sobre o momento crucial em que nos confrontamos enquanto sociedade do "conhecimento". 

Talvez, despidos de nossa conveniente e eleita alienação, possamos reinventar nosso cotidiano social, reestruturando os valores e construindo uma ética com princípios mais humanos, mais sustentáveis, mais solidários, mais honrados e coerentes. Talvez esse seja o real caminho da libertação dos grilhões de séculos de medo existencial. 

A fim de deixarmos de representar os piores aspectos de sermos a contemporaneidade dos milênios enquanto povo, agora acordados e sedentos por mudanças, possamos caminhar juntos como componentes sinérgicos de um gigante mitológico que precisa se encontrar, se educar e crescer. Talvez ao final da estrada encontraremos não só os Amarildos para um abraço, mas também a inefável felicidade de sermos 'apenas' humanos despojados de nossos títulos nobres e de nossa mentecapta arrogância. Talvez, quem sabe?  

Referências Bibliográficas

CANTARINO Geraldo Uma ilha chamada Brasil: o paraíso irlandês no passado brasileiro [Livro]. - Rio de Janeiro : Mauad, 2004.

HERCULANO Alexandre Historia de Portugal, volume 3 [Livro]. - Barcarena : Editoral Presença, 1998.

MARX Karl O trabalho alienado, primeiro manuscrito [Livro]. - São Paulo : Ed. Martin Claret, 2003.

MELLO Christiane Figueiredo Pagano de Forças Militares no Brasil Colonial: Corpos de Auxiliares e de Ordenanças na segunda metade do século XVIII [Livro]. - Rio de Janeiro : E-Papers, 2009.



domingo, 16 de junho de 2013

Vandalismo Matemático! Contas toscas e reflexões sobre o aumento de R$0,20.

Mobilidade Urbana nessa cidade é essencial para o desenvolvimento da sustentabilidade. Debate e apresentação de ideias também.
Tanta polêmica sobre o preço das passagens, que resolvi refletir sobre isso munida de uma calculadora e meus conhecimentos básicos de matemática, antes de expressar posição e opinião sobre o aumento de vinte centavos.  


Lembrei-me que para considerar justo ou não o aumento do preço da passagem precisava primeiro avaliar os custos com o preço antigo. Como na maioria das empresas no Brasil balanço é uma coisa confidencial, resolvi pegar minha calculadora e algumas informações dispersas no Santo Google e fui às contas, imaginando abrir um negócio de transporte público utilizando apenas meus parcos conhecimentos matemáticos das quatro operações.
Imaginei-me comprando um ônibus com a idade média da frota da cidade conforme as informações dos indicadores da SPTRANSA idade média da frota é de 5 anos e 6 meses com permissão de 4 anos. Agora, precisava comprar um ônibus.

Bom, no mercado livre é possível encontrar um modelo OF-1722 da Mercedes-benz, - do ano de 2008, capacidade de 46 lugares sentados, diesel, carroceria Marco Polo Torino -  por apenas 120 mil reais.
Nossa! Já me animei até a começar um negócio de transporte. Então, me lembrei das parcas aulas de matemática que tive e calculei quantos passageiros meu ônibus teria que levar para retornar meu investimento. Parti da seguinte conta: 
O preço do ônibus: R$ 120.000,00
O preço da passagem: R$ 3,00. 
Então dividi um pelo outro e o resultado foi: 40.000 passageiros. 
Opa, muita gente!!!! Será que em quatro anos de permissão eu consigo tudo isso de gente andando no meu lindo ‘busão’?  

Daí minha veia matemática saltou e com esforço lembrei das outras aulas de matemática que tive. Peguei o resultado de 40.000 passageiros e dividi pelo número de lugares que tenho disponíveis: 40.000 passageiros : 46 lugares = 869,56 ~ 870. Meu ônibus teria que fazer, no mínimo,  870 viagens só pra que eu tivesse meus 120 mil reais de volta.  Muita coisa, pensando assim já estava quase concordando com o aumento de tarifa. 

Daí eu pensei: quantos dias tem um ano? 365 dias. Se meu ônibus andar uma vez por dia com 46 passageiros sentados, eu teria meu possante pago em:

870 viagens : 365 dias = 2,38 ??? o quê? Bom, usei a subtração pra ter certeza:  
870 viagens – 730 dias(que são o número de dias em dois anos) = 140 dias. 
140 dias: 30 (dias em um mês) = 4,6 o quê??? Olha eu, de novo, na subtração: 
140 dias – 120 dias( que equivalem a 4 meses de 30 dias) = 20 dias. 

Então por minha tosca habilidade matemática, supus que em dois anos, 4 meses e 20 dias eu pagaria meu ônibus. Fazendo apenas uma viagem por dia.

 Lembrei-me que a permissão é de quatro anos...Opa, então o que eu faturar no restante da permissão é lucro! O restante é um ano sete meses e 10 dias.   Animei com essa perspectiva de ganho e recorri à calculadora, pensei assim: 
1460 dias (365dias X 4) X R$3,00 X 46passageiros = R$201.480,00
R$201.480,00 – R$120.000,00(o preço que paguei pelo ônibus) = 81.480,00 

Pôxa, desanimei de novo, só 81 mil reais de lucro? Mas me consolei quando me lembrei da proporção sobre meu dinheiro investido inicialmente: (81.000,00 : 120.000,00) x 100 = 67,9% em quatro anos de lucro bruto. Então a proporção de meu lucro bruto por ano seria 16,97%, é muito baixo, porque eu ainda nem debitei os custos... Vejamos:
Suponho que minha única viagem diária percorra 25km, a R$2,00 o preço do litro do diesel. Com um rendimento de 3,4km/litro de meu possante ônibus, meu custo com o combustível nessa viagem será de: (25km : 3,4Km) X R$2,00 = R$14,70. Esse valor eu tenho que multiplicar por 1460 dias ( 4 anos) para encontrar meu custo fixo de combustível: 1460 X 14,70 = R$ 21.462,00 só de diesel. Depois tem os empregados, preciso calcular pra incluir na minha conta, vamos lá: o salário médio de um motorista em São Paulo é de R$ 1.776,60 por mês e de um cobrador de R$ 1. 026,48. Como vou fazer uma viagem por dia, resolvi procurar na internet quanto ganham por hora: R$8,00 o motorista e R$5,00 o cobrador. 

Legal, já poderia calcular, mas tive que incluir aquele monte de encargos que um empregador tem que pagar. Pra facilitar, sem perder a noção de realidade na minha situação imaginária, resolvi dobrar esse valor, já embutindo todos os encargos (R$16,00 motorista e R$ 10,00 o cobrador).
Certo, mas para facilitar ainda mais minha conta, achei que não tinha problema somar os dois valores, então para meu cálculo de despesas com empregados, resolvi jogar R$ 26,00 reais a hora.
Bom, acho que agora estou preparada para elaborar minha tosca conta de custo operacional. Considerando que uma viagem de 25 km na cidade, de ônibus, leva cerca de duas horas, segundo o site da SPTrans (referente a linha 477A-10), então meu custo de pessoal, por dia será de R$52,00. E o custo em quatro anos? Agora fica fácil: R$52,00 X 1460dias X 1viagem = R$75.920,00. O QUÊ????? Desse jeito é muito custo. 

Somando os 21.462,00 do combustível com os 75.920,00 de custo de pessoal, dá um total de R$ 97.382,00 só de custo!!!! Voltei indignada pra calculadora e descobri que realmente, a passagem no valor de R$3,00 para 46 passageiros sentados, uma viagem por dia, durante quatro anos me dará um prejuízo de R$16.382,00 reais. Em proporção: 7,89%:
201.480,00(faturamento) – 120.000,00(o preço do ônibus) – 97.382,00(custo operacional total) =   - 15.902,00.
Pagarei para trabalhar!!! Mas me lembrei de que só calculei passageiros sentados, em uma única viagem. Se adicionar passageiros que concordem em pagar a mesma tarifa e forem em pé, mesmo que espremidos, talvez conseguisse um pouco de lucro.
Voltei pro Google e descobri, numa reportagem que cada ônibus leva 72 passageiros em pé e sentados confortavelmente. Em horário de pico, consegue transportar até 104. Voltei pra calculadora e conferi: 
1460viagens X R$3,00 X 46 passageiros = R$ 201.480,00
1460 viagens x R$3,00 x 72 passageiros = R$ 315.360,00 
1460viagens X R$3,00 X 104 passageiros = R$ 455.520,00
Daí , vi uma luz no fim do túnel. Se levar, como manda a lei, 72 passageiros em minha viagem, somando o custo do ônibus, dos empregados e do diesel numa única viagem de duas horas num percurso de 25km (120.000,00 + 21.462,00 + 75.920,00 = 217.382,00): 
315.360,00 – 217.382,00 = R$97.978,00 de lucro líquido em quatro anos fazendo apenas uma viagem por dia!!!! Ou, na proporção: 31,06%. Ou ainda, 7,8% ao ano. 
Compensa investir num CDB qualquer. Muito risco pra pouco dinheiro, vai que meu ônibus quebra, os possíveis assaltos. O negócio é lotar meu ônibus até onde eu puder, vejamos, se eu levar 104 passageiros:
455.520,00 – 217.382,00 = R$ 238.138,00 de lucro líquido. Uau!!! Ou, na proporção: 52,28% em quatro anos. São 13,07% ao ano. 
Então, se eu fizer uma única viagem de 25km por dia,  durante quatro anos, com um motorista e um cobrador, transportando 104 passageiros, cobrando R$3,00, eu pago meu ônibus em  um ano e ainda tenho lucro? 
Agora imagina se eu fizer mais viagens em um dia, mesmo com os custos de pessoal e do diesel, meu ônibus já pago, então: 
1460viagens X R$3,00 X 46 passageiros = R$ 201.480,00        201.480,00 – 97.382,00(custos) = 104.098,00 lucro líquido. 33%. Ou 8,25% ao ano, por viagem.
1460 viagens x R$3,00 x 72 passageiros = R$ 315.360,00       R$ 315.360,00 - 97.382,00(custos) = 217.978,00. 69,12%. Ou 17,28% ao ano, por viagem. Com 26 passageiros em pé.
1460 viagens X R$3,00 X 104 passageiros = R$ 455.520,00    R$455.520,00 – 97.382,00(custos)= 358.138,00. 78,6%. 19.25% ao ano, por viagem. Lucro mais que dobrado com 58 passageiros em pé. (Será que cabe?) 

Nossa! Em quatro anos eu amplio a frota e fico rica, muito rica. Com essa margem de lucro por viagem, dá para o ônibus quebrar, pagar impostos, ser assaltada. Gente é muito dinheiro! Isso porque nem estou contando aqueles passageiros que entram e saem no meio do caminho. 

Resolvi conferir na vida real. Eu utilizo transporte público então, imbuída ainda de meu parco raciocínio matemático, consultei a SPTRANS, para trabalhar com números reais e parar de me imaginar uma grande empresária de transporte público urbano. Nos indicadores da SPTRANS, só no mês de abril(30 dias), foram computadas 219.384.518 pessoas transportadas numa frota de 15.025 veículos. Fazendo a conta são 487 passageiros por dia para um único veículo, em média - que as mesmas pessoas vão e voltem - 243 pessoas por dia, por carro. Considerando que o mesmo veículo demore duas horas em cada viagem, são, numa jornada de 20 horas, 10 viagens por ônibus ou uma média de 24 passageiros por viagem. Gente!!!! Mas os ônibus vivem lotados!!!! Deve ser teoria da conspiração ou delírio meu quando tenho que me espremer pra achar um lugarzinho no ônibus. Eu que utilizo o serviço, parece tão real a dificuldade e o desconforto!!!! Mas os indicadores não mentem, matemática é uma ciência exata....pra quem? 

Matematicamente, então, não existe problema de transporte público. Será? Realmente acho que preciso aprimorar minha matemática. O que eu não considerei? Talvez que existam problemas de gestão? Talvez que os indicadores devem estar errados? Talvez todos os carros não estejam circulando? Talvez ainda, as pessoas saiam todas num único horário? Talvez existam pessoas que não passem na roleta? Sei lá. O que eu pensar a partir de agora pode ser considerado vandalismo, já que até esse termo está adotando outro significado. 

O que dá pra pensar depois de todo esse raciocínio, é que matematicamente falando,  a passagem com o valor de R$3,00 dá um lucro suficiente para aumentar a frota e enriquecer. Não tem necessidade de aumento. Posso estar errada, pois como já disse antes sou péssima em matemática financeira. Sempre estou aberta às correções e novos aprendizados. Os especialistas que me corrijam e me ensinem como se fazem essas contas! 

 Mas esperemos que as empresas apresentem seus balanços anuais para que a população, assim como eu, pegue a calculadora e faça as contas, isso evitará mais violência e proporcionará um debate aberto e organizado. 

Quem sabe ideias maravilhosas e inovadoras possam surgir? Como por exemplo, maior transparência, menos lucro e mais humanidade no trato com pessoas que devem também ser consideradas humanas apesar de não terem quatro rodas. Ou ainda, melhorar o ensino da matemática ministrado aos gestores públicos e privados para o aperfeiçoamento do planejamento da mobilidade urbana nessa cidade. Ensinar matemática para a população também seria de bom tom, mas isso é outra discussão, para outro dia. 










terça-feira, 9 de abril de 2013

O que há por trás do preço do tomate.


Nos últimos dias no Facebook  houve muita discussão sobre o absurdo preço dos tomates, entre piadas e ironias, as pessoas se mostraram indignadas pela alta de preços de uma fruta(que todo mundo acredita ser legume porque não tem folha e não é doce) tão popular e utilizada em quase todas as saladas nacionais.

Tomate é apenas o símbolo do momento para um assunto e uma questão mais séria: Por que tudo custa mais caro no Brasil? Isso, no fim das contas é que é o bisonho.... Nossa falta de senso para consumir e praticar estratégia de preço. Seja do Tomate, seja do carro, seja do que for. Algumas matérias vinculadas, esse mês, tratam do assunto com maior propriedade.

A questão talvez esteja no que os especialistas chamam de “Efeito Tulipa”. Mesmo não sabendo o que significa exatamente esse efeito, percebo que a maioria das pessoas começam a se incomodar com essa insana estratégia de preços, intuitivamente começam a questionar como tudo é tão caro e como os preços continuam subindo.

Enfim, Efeito Tulipa: “Mania das tulipas, tulipomania, tulipamania, febre da tulipa ou crise das tulipas são expressões referentes a um episódio da História dos Países Baixos que deu origem à primeira bolha especulativa conhecida. Hoje, tais termos são aplicados metaforicamente a qualquer bolha especulativa em grande escala.”  (STRATHEM, 2003 p.24).
Essa mania das tulipas levou os holandeses no século XVI a uma crise econômica sem precedentes. Segundo o mesmo autor:
tulipa semper augustus
As tulipas foram introduzidas nos Países Baixos no século XVI. Suas flores, muito apreciadas por sua beleza, passaram a ser muito procuradas, favorecendo o aumento dos preços. Com o passar dos anos, os preços aumentavam cada vez mais rápido, tornando o comércio de bulbos de tulipas bastante lucrativo. Pessoas de todas as classes vendiam propriedades para investir em tulipas, e em meados da década de 1630 surgiram contratos de futuros para negociar os bulbos antes mesmo da colheita. Em 1637, devido a diversos fatores, houve uma perda de confiança em tais títulos, levando muitos a uma corrida para o resgate de seus investimentos. Consequentemente, os preços caíram subitamente, e inúmeros negociantes foram à falência. (STRATHEN, 2003,p.30)

Livro que recomendo, principalmente, o capítulo um: “Alguma coisa surge do nada”.

Quando se analisa esse comportamento bisonho do consumidor brasileiro, verifica-se a fase de deslumbramento e do avanço do dito “tudo tem um preço” para o ponto em que se encontra o consumidor brasileiro: o preço é tudo.

A dimensão econômica da sustentabilidade brasileira agora é ameaçada pela supervalorização de coisas desprovidas de valor real intrínseco. Reflexo de nossa “ignorância programada” ou reflexo de nosso deslumbre eufórico depois de tantas gerações de repressão consumista? Na minha humilde opinião, é tudo isso e mais: a institucionalização da avareza humana como traço cultural aceito e reproduzido pela sociedade brasileira.

 A avareza e a ganância desmedidas não são próprias de uma sociedade que pretende se desenvolver civilizada e sustentável. Fato.

Voltemos aos tomates então, na lógica da criação de preços ao consumidor, temos os custos fixos e variáveis da produção, somamos impostos e encargos, somamos ainda o lucro mínimo pretendido pelo produtor e....agregamos o valor do desejo do consumidor. Esse último item precisa ser revisto, não pelo distribuidor ou pelo produtor e sim por cada um de nós, consumidores. O foco são tomates, mas as outras frutas e legumes apresentam a mesma lógica. Ninguém comenta porque o chuchu é verde? Ou a abobrinha? Ou o pepino então? Será algum preconceito de cor? 

A noção do quanto mais caro melhor, hoje, comprovadamente é uma grande ilusão. Só no quesito alimentação, uma busca no Google por “restaurante fechado por falta de higiene” nos apresenta milhares de páginas vinculadas de estabelecimentos em todas as faixas de consumo. Temos preço e não temos segurança alimentar. Basta uma viagem para o exterior para comprovarmos que o caro aqui não é caro lá e o produto é o mesmo, muitas vezes viajando até menos para chegar em nossas casas ou mesas. Porque com a tecnologia de hoje o produto viaja e viaja muito. Seja ele um bem durável ou não. 

O tomate é um produto que apresenta época de safra, fim de safra e começo de safra. Como todo produto do gênero. Não temos invernos rigorosos e em algumas regiões podemos ter safras o ano todo. Podemos cultivar qualquer coisa em praticamente todo o território nacional, inclusive em nossas casas e apartamentos. Não há realmente motivos razoáveis para tanta especulação. O CEAGESP divulga o calendário das frutas e legumes de época, mesmo essas ainda apresentam preços abusivos é o tempo próprio delas. Falta alimentos ou falta bom senso?

Se abril é época de forte comercialização de tomate, então em maio, junho e julho época de entressafra, o pagaremos em prestações?

Consumir alimentos de época, observar o calendário completo de safras, é , sem sombra de dúvidas, mais saudável e mais nutritivo. Contudo, deixar de comer esse ou aquele alimento para que o comerciante abaixe o preço, faz parte do jogo de mercado que todo mundo faz questão de participar. Lembrando que aqui joga-se truco e não pôquer, mas na arte do blefe o comerciante é que grita "Doze"!  

Talvez precisemos compreender que não é uma questão de ter ou não o dinheiro pra pagar isso ou aquilo, mas como negociamos para que esse dinheiro cumpra sua função social mais rudimentar de capital dentro de um ciclo realmente produtivo, tanto local como globalmente, gerando riqueza para toda a sociedade e não só para os 1% de sempre. Isso, negociar preços mais justos, também faz parte do conceito de sustentabilidade e da prática sustentável. No limite, quem gasta dinheiro de modo inconsequente é pobre. Rico tem uma outra relação com ele, geralmente o respeita ao ponto de negociar sempre o melhor preço. 

Enfim, outra opção: o cultivo de tomates e pimentões em casa é possível ainda e, além de decorativas, as plantas podem ser cultivadas em vasos e pequenos espaços. Fica a dica.
    
Livro citado:
STRATHERN Paul. Uma breve história da economia. Jorge Zahar Editor, 2003.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Compras Inteligentes e Sustentáveis.

      
  
   Importante para a sustentabilidade de um país é sua população procurar consumir produtos locais, gerando empregos, desenvolvendo a economia e, por conseguinte, a governança viabilizando soluções mais assertivas para as questões sociais. Isso não é novidade. 
     A "novidade" é que agora - para driblar essa nova exigência dos consumidores conscientes -  os produtos informam o "Made in" do país de origem do distribuidor e não do país de origem do Produtor. Tudo para manter os lucros e os custos operacionais baixos, será? 
       Os problemas decorrentes dessa prática, entre todas as questões sociais envolvidas, é que muitas vezes, principalmente no que diz respeito às questões de segurança alimentar, os países produtores não têm o mesmo cuidado que têm os países consumidores nos quesitos de cultivo e de colheita (Incluindo em alguns casos até produtos orgânicos). Tempos atrás, produtos como brinquedos e roupas já apresentaram problemas sérios. 
         Resta ao consumidor consciente aprender a ler os códigos de barras. Os três primeiros dígitos identificam, sem sombra de dúvida, o país de origem. 
         Uma coisa é o poder de comprar aquilo que quiser, ostentar e se sentir importante, pagando um preço baixo. A sensação não tem preço, admito.
       Outra coisa, é comprometer a própria saúde física e mental e a dos entes queridos para manter o poder de compra. Como assim? Clique nas palavras do texto, consulte os links de referência e descubra! 
A escolha é de cada um de nós.  

Comprar inteligente, hoje em dia, não é considerar só o preço, é considerar também a origem exata dos produtos. Pronto, falei! 

Veja a Relação: 


Confira a tabela com o número identificador de cada país no código de barras:
  • 000-013: EUA & Canadá
  • 020-029: Reservado para uso das lojas
  • 030-037: França
  • 040-044: Alemanha
  • 045: Japão (também 049)
  • 046: Federação da Rússia
  • 471: Taiwan
  • 474: Estônia
  • 475: Letônia
  • 477: Lithuania
  • 479: Sri Lanka
  • 480: Filipinas
  • 482: Ucrânia
  • 484: República da Moldávia
  • 485: República da Armênia
  • 486: Geórgia
  • 487: Cazaquistão
  • 489: Hong Kong
  • 049: Japão (JAN-13)
  • 050: Reino Unido (500)
  • 520: Grécia
  • 528: Líbano
  • 529: Chipre
  • 531: República da Macedônia
  • 535: República de Malta
  • 539: Irlanda
  • 054: Bélgica & Luxemburgo
  • 560: Portugal
  • 569: Islândia
  • 057: Dinamarca
  • 590: Polônia
  • 594: Romênia
  • 599: Hungria
  • 600 & 601: África do Sul
  • 609: Maurícia
  • 611: Marrocos
  • 613: Argélia
  • 619: Tunísia
  • 622: Egito
  • 625: Jordânia
  • 626: Irã
  • 064: Finlândia
  • 690-692: China
  • 070: Noruega
  • 729: Israel
  • 073: Suécia
  • 740: Guatemala
  • 741: El Salvador
  • 742: Honduras
  • 743: Nicarágua
  • 744: Costa Rica
  • 746: República Dominicana
  • 750: México
  • 759: Venezuela
  • 076: Suíça
  • 770: Colômbia
  • 773: Uruguai
  • 775: Peru
  • 777: Bolívia
  • 779: Argentina
  • 780: Chile
  • 784: Paraguai
  • 785: Peru
  • 786: Equador
  • 789: Brasil
  • 080 – 083: Itália
  • 084: Espanha (841, 842 ou 843)
  • 850: Cuba
  • 858: Eslováquia
  • 859: República Tcheca
  • 860: Iugoslávia
  • 869: Turquia
  • 087: Holanda
  • 880: Coréia do Sul
  • 885: Tailândia
  • 888: Singapura
  • 890: Índia
  • 893: Vietnã
  • 899: Indonésia
  • 090 & 091: Áustria
  • 093: Austrália
  • 094: Nova Zelândia
  • 955: Malásia
  • 977: International Standard Serial Number for Periodicals (ISSN)
  • 978: International Standard Book Numbering (ISBN)
  • 979: International Standard Music Number (ISMN)
  • 980: Refund receipts
  • 981 & 982: Common Currency Coupons
  • 099: Coupons