Essa semana o blog português, Sustentabilidade em Acção, colocou no ar um documentário sobre a contaminação dos alimentos por cádmio, chumbo e outros metais e venenos provenientes da utilização de agrotóxicos, fertilizantes e poluentes dispersados no ar. O governo português permite hortas urbanas em terrenos no entorno de estradas e vias públicas para subsistência. Apesar de mecanismos legais, a TVI portuguesa testou diversos alimentos, inclusive carnes brancas e vermelhas e constatou a existência de resíduos de metabolizantes e outras substâncias. Segundo os especialistas portugueses, essa contaminação dos alimentos foi uma das responsáveis pelo aumento de 735% nos casos de câncer no espaço de 20 anos.
Também estreou no dia 01/09 nos EUA, uma série para TV chamada Terra Nova sob a supervisão de Spielberg. O argumento da série é o colapso de recursos naturais do planeta em 2149 devido ao avanço tecnológico acelerado e desequilibrado que acabou criando um paradoxo interessante: sem possibilidade de intervenção humana para recuperar os recursos naturais na atualidade os cientistas desenvolveram uma máquina do tempo onde é possível enviar os humanos para 85 milhões de anos no passado e começar de novo com a promessa de uma nova concepção social e ambiental, contudo essa nova comunidade terá que conviver com dinossauros para talvez salvar a raça humana da extinção. Ficção, eu sei. Entretenimento. Todavia ficção também se baseia de alguma forma na realidade.
Agora vamos refletir sobre alguns pontos da chamada realidade que baseia essa ficção spielberguiana e outras que estão por aí na telinha e na internet:
Os teoremas de singularidade de Penrose-Hakking, podem dar conta da realidade científica sobre romper-se o continuum do espaço-tempo.
Segundo a última conferência da ONU sobre mudanças climáticas a COP16 em Cancun, entre 29 de novembro e 10 de dezembro de 2010, os 194 países que participaram fecharam um modesto acordo que, entre outras medidas prevê a criação do “Fundo Verde” a partir de 2020 para os países emergentes para o combate das mudanças climáticas e a criação de um mecanismo de proteção das florestas tropicais, além de “fortes reduções” das emissões de CO2, entretanto foi adiado por mais um ano a criação de um mecanismo legal para forçar os países mais causadores de emissões de gases do efeito estufa, como Estados Unidos e China, a reduzirem suas emissões. O empurra-empurra de responsabilidades e comprometimento entre os maiores emissores (Estados Unidos, China, Japão e Índia) é digno de um conflito infantil entre crianças no ensino fundamental por conta de uma infração. “Só faço se o outro fizer” e no fim adiam-se as discussões para a COP 17 em Durban, África do Sul, entre 28 de novembro e 09 de dezembro desse ano.
No Brasil, a presidenta Dilma Rousseft já anunciou hoje, 03 de outubro, o programa Bolsa Verde, visando atingir a população de dois milhões e 650 mil pessoas que vivem na miséria nos estados da Região Norte do país e representam 17% dos 16 milhões e 200 mil brasileiros que ainda vivem em condições de extrema pobreza. Segundo o site da Prensa Latina, os núcleos de assentamento florestais e em reservas ecológicas receberão os benefícios da Bolsa Verde por cuidar do meio ambiente. Serão 73 mil famílias até o fim de 2014. Segundo a presidenta, as forças armadas terão a tarefa de atravessar rios e bosques em busca dessas pessoas para providenciar sua inclusão social. Tarefa hercúlea e com o objetivo de ir “ao infinito e além” para cumprir as metas do governo brasileiro em concordância com as medidas fechadas na COP16.
O Brasil ainda é considerado um país emergente pela ONU, apesar de não ser obrigado, ratificou o Protocolo de Kyoto em 2002 para poder emitir créditos de carbono e ainda receber investimentos, como previsto no mesmo protocolo, para programas de MDL e desenvolvimento de novas tecnologias limpas. Talvez com esse programa possa também ser candidato aos recursos acordados para 2020 na COP16. E quem disse que não temos visão de longo prazo.
Então, ligando esses pontos reais até aqui expostos: nossos alimentos estão contaminados, e generalizo porque essas coisas de utilização de químicos para aumentar a produtividade agrícola não se resumem apenas à Portugal, na maior parte do mundo isso é utilizado, só que os portugueses quiseram mostrar. Essa contaminação talvez ocorra porque os instrumentos legais e fiscais são insuficientes e o ramo agropecuário precisa ser mais lucrativo.Basta ler os relatórios e estudos da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
No mais quando os representantes governamentais, responsáveis pelo bem estar de suas populações, se reúnem para pretensamente encontrarem um ponto de equilíbrio entre a produção, a tecnologia, o ganho financeiro e a preservação dos recursos naturais agem como crianças mimadas com fracos e egóicos argumentos numa política de “empurra pra frente” ou “deixa pra outro resolver” preocupados com suas carreiras políticas e diplomáticas em detrimento ao que realmente interessa: a preservação da raça humana e do planeta.
Por essa postura apresentada em um evento global, perfeitamente normal que um governante nacional de um país emergente, crie um programa sobre outro já existente e que já deveria ter sanado o problema de inclusão social visando talvez à captação de recursos estrangeiros que futuramente virão... E onde fica a sustentabilidade nesse contexto? Talvez numa fratura no continuum do espaço-tempo que nos conduzindo para o um passado remoto onde conviveremos com dinossauros. Brincadeiras à parte é tênue o véu que separa realidade e ficção algumas vezes.
Enfim, sustentabilidade não é uma coisa radical e de outro mundo, não é ficção, requer apenas que a loucura generalizada que chamamos de realidade e que consideramos como normalidade seja revista, seja transformada, hoje e não amanhã. Já temos os mecanismos, já temos os indicadores, falta-nos apenas a vontade em detrimento da vaidade. Ou talvez tenhamos que conviver com os dinossauros no panteão da terra como espécie extinta. A escolha é nossa.
Fontes:
BBCBrasil
Blog Sustentabilidade é Acção
FAO
prensa latina
página oficial da COP16
Terra Nova
HAWKING, Stephen; and ELLIS, G. F. R. The Large Scale Structure of Space-Time. Cambridge: Cambridge University Press(1973).
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